**Partir**
**Partiu**
Hoje partiu uma jornalista que tinha o nome da minha mãe, mas na ordem trocada, com
“Maria” atrás de “Glória”. Quando eu era adolescente, sonhava em ser jornalista, talvez
para escrever sobre as dores do mundo. Eu imaginava que trabalhar com jornalismo seria
algo meio Clarice, a Clarice da “Hora das Estrelas”, a hora de partir. Sim, um dia vamos, e
sobra a máquina de escrever com o texto pela metade, a carta que não foi ao correio, a
sapatilha sem pés para dançar, os óculos de natação esperando no seu canto…
Um dia, todos viram estrelas. Eu queria me transformar em sereia e nadar mar afora…
É “Glória” com “Maria” atrás ou na frente? Precisamos quebrar padrões, usar o que
queremos, ser agentes de nós mesmas. Essa história de permanecer enclausurada em caixinhas não dá.
Mas, afinal, o que são padrões? Glória é força feminina…
Minha avó paterna foi a primeira a partir em um dia de chuva. Ela me chamava de passarinho, e vó, a senhora estava certa; sempre gostei de voar na imaginação.
Sobre meu padrinho, sei pouco, mas lembro que ele gostava de Nossa Senhora de Guadalupe, a Nossa Senhora de roupa colorida e flores, tão popular no México…
Também vão os pássaros.
Os avós de olhos azuis e os padrinhos.
E se vão a professora de pintura.
A jornalista, a “Gal” da minha música.
E lá se vão as histórias escritas na máquina de escrever do meu avô materno, que faleceu
no mesmo dia da minha avó paterna, no mesmo 19 de agosto, só que dez anos depois.
Meu avô, um professor…
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