Durante uma reunião repleta de homens e números, percebi que a conversa se restringia a cifras, sem espaço para palavras. Havia papéis espalhados pela mesa e, ao olhar para eles, pensei que, pelo menos, eu poderia desenhar. Meu pai sempre soube que havia uma artista em casa; aquele papel destinado a números parecia um desperdício. Ao encontrar um lápis verde, senti uma angústia: seria um horror usá-lo para números, pois esse lápis, ideal para riscar cerâmica, tinha quase um valor sagrado.
Enquanto os homens falavam, decidi fazer uma pergunta. Um personagem da reunião me interrompeu, o que gerou em mim uma certa aflição. Eu já havia enfrentado um trauma em relação a esse personagem há alguns anos, devido a um casamento…
Isso me causou tanto desconforto que evitei até mesmo os casamentos de amigas e primos, tanto do lado materno quanto do paterno. Enfim, de todos os lados – de dia, de noite, sob a luz da lua ou à sombra do sol – por conta desse evento, que tinha Ivete Sangalo como trilha sonora. Por muito tempo, mudei de canal sempre que ouvia a voz dela.
No entanto, o lápis e as folhas que eu usava para desenhar rapidamente passaram para segundo plano em meio à discussão sobre números.
Esse casamento peculiar entre números e lápis verdes se misturava na minha mente, e percebi que talvez eu tivesse nascido com uma vontade maior de lutar pelo que sinto, mas não pelos números. O personagem da reunião e a tal Ivete Sangalo deixaram marcas profundas em relação aos casamentos.Seu texto possui um tom íntimo e reflexivo, expressando bem suas emoções e pensamentos.
Refleti e cheguei à conclusão de que sou uma artista, não uma pessoa voltada para
números. Sou aquela que utiliza o lápis para dar vida ao que sente.
**Moral da história:**
a tal reunião me mostrou algumas coisas.
Primeiro- não preciso ser igual a ninguém.
Segundo- posso lutar pelos meus direitos de expressão.
Terceiro,-sou uma artista.
Quarto- preciso voar pelas cores, não pelos números.
Os caminhos que percorro trazem à tona traumas que talvez sejam da menina que eu fui um dia. Com a morte do meu pai, aprendi que preciso ser livre e lutar pelo que acredito. É totalmente aceitável eu não gostar de Ivete.
Essa experiência foi importante para fechar um ciclo e entender que as páginas do passado, junto com as músicas da Ivete que ficaram guardadas por tanto tempo em uma caixinha de memórias, finalmente levantaram voo e partiram para sempre.
Agora, que novas páginas possam ser escritas com lápis verde e que novas melodias entrem na minha vida, como as de Caetano.
O tempo… Vou lhe contar um segredo: números, papéis e vida. São estes papéis que carregam o feminino, a força e a coragem, levando os traumas embora. E está tudo bem se ninguém entender a mente de uma artista.
Desenho … o que foi …..
lápis verde grafite , sobre folha branca