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**Carta para o Papai Noel*

**Carta para o Papai Noel**

Querido Papai Noel,

Este ano foi difícil, e sinto que não me comporte tão bem.

Fiquei pensando no que pedir, e talvez, no fundo, eu só queira meu pai de volta.

Mas sei que o senhor não tem esse poder.

Quem sabe eu gostaria de reviver os Natais da minha infância?

Queria voltar a ser aquela menina do vestido azul, mas sem a timidez que me acompanhava.

Talvez eu quisesse ser aquela adolescente da blusa rosa, mas com um pouco menos de nervosismo.

Quem sabe eu gostaria de ganhar uma boneca, ou aqueles objetos tecnológicos que meu pai me dava, enquanto eu mal sonhava com uma pulseirinha da moda.

Seria maravilhoso ter uma bicicleta rosa, para andar como quando eu era criança.

E, claro, um cachorro, desta vez um macho, mas espero que não me expulsem de casa por isso (risos).

Ah, e sobre o cachorro Cavalier que meu pai me prometeu, será que ele poderia me mandar um do céu?

Talvez um gatinho, quem sabe com olhos azuis e pelos ruivos.

Ou um outro bichinho, menos uma tartaruga, pois tenho medo delas, e também não gosto de passarinho preso.

Já sei! Quero a Barbie astronauta, ou, quem sabe, a Barbie da Frida? É um sonho antigo, mas nunca a encontro para comprar.

Por fim, quero que a Ti  tenha muita saúde, Papai Noel ..sei que este ano um anjinho já deu um jeitinho. Agradeça a ele por mim, Papai Noel! E, foram duas vezes, Papai Noel.

Já que não é possível trazer meu pai de volta, se der, eu só gostaria de mandar uma mensagem de WhatsApp para ele. Lá no céu tem Wi-Fi?

Mas, de qualquer forma, Papai Noel, obrigada por mais um ano. Afinal, cheguei até aqui… um pouco diferente, mas cheguei. Isso é o que importa no final das contas, não é?”

imagem feita com inteligência artificial

**Corpo que somos e história que vivemos**

Corpo que somos e história que vivemos

**Corpo que somos e história que vivemos**
**O corpo e o olhar**

O corpo é proteção.

É o que nos resguarda do mal.

Para mim, o corpo é o movimento no espaço:

O corpo que dança entre um plié e outro,

O corpo que pinta entre o rosa e o azul,

O corpo que cria arte quase o tempo todo.

O corpo que nasceu um pouco molinho, com hipotonia muscular, mas sempre aprendeu a superar limites.

Se não era possível dançar balé, era possível pintar; nadar como uma sereia nas piscinas da vida;

Inventar mil brincadeiras com as bonecas no chão.

Sempre o chão, a construção do espaço.

Pintar quase com o corpo inteiro no chão,

A bicicleta rodando no térreo do prédio, com a sua cestinha.

O corpo que hoje dança balé, mas já dançou jazz e dança do ventre;

Que já nadou em todos os estilos;

E que aprende uma cor nova a cada dia.

O corpo e a arte;

As memórias da infância,

As memórias da menina-mulher que busca movimentos pelas cores da vida…

texto e colagem feitos na  aula da pós

      

      

Rita Lee 

Rita Lee ….

No ano passado, comecei a fazer uma série sobre Rita Lee.

Era sobre a Rita Lee e sobre a ti ( como agente chama a minha tia )

sobre a minha tia  que me criou. Elas sempre foram muito parecidas, à frente do seu tempo.

A Rita entrou na minha vida ainda criança, no começo dos anos 80, quando havia tanta energia e cores.

a Ti e a Rita andava com roupas parecidas.

Eu achava que tinha a minha “Rita particular”, e, na verdade, ainda acho.

A Rita me ensinou a estar à frente do meu tempo. Como João Lee disse, é importante

escolher bem os seus heróis. De certa forma, fui aprendendo quem eram os meus com a ti  

também, e entre eles estava a Rita.

Rita, à frente do seu tempo, que gostava de animais como a ti .

Sim, animais são melhores do que gente.

Ela disse uma vez em uma entrevista que não acreditava em aviões, mas sim em naves espaciais. Eu também, Rita!

Prefiro as naves espaciais; elas estão à frente do nosso tempo.

Outro dia, pensando sobre se um dia  eu tivesse uma filha, ela se chamaria Maria Rita:

Rita de Rita Lee, Rita da minha tia, Rita de Santa Rita, a Santa Rita das ovelhas negras, a

Santa Rita de Cássia. Acho que também teria um pouco da influência da Pinky, outra

artista à frente do seu tempo.

Minha Rita das ovelhas negras…

  A Ti  e a Rita tão parecidas, à frente do tempo: Corinthianas, de cabelos vermelhos. Até o

cachorrinho da Rita é da mesma raça que o nosso!

Obrigada, Santa Rita das ovelhas negras, por me ensinar tanto. Sim, escolher os heróis

certos faz muita diferença, e tenho certeza disso.

**Partir** **Partiu**

**Partir**
**Partiu**
Hoje partiu uma jornalista que tinha o nome da minha mãe, mas na ordem trocada, com

“Maria” atrás de “Glória”. Quando eu era adolescente, sonhava em ser jornalista, talvez

para escrever sobre as dores do mundo. Eu imaginava que trabalhar com jornalismo seria

algo meio Clarice, a Clarice da “Hora das Estrelas”, a hora de partir. Sim, um dia vamos, e

sobra a máquina de escrever com o texto pela metade, a carta que não foi ao correio, a

sapatilha sem pés para dançar, os óculos de natação esperando no seu canto…

Um dia, todos viram estrelas. Eu queria me transformar em sereia e nadar mar afora…

É “Glória” com “Maria” atrás ou na frente? Precisamos quebrar padrões, usar o que

queremos, ser agentes de nós mesmas. Essa história de permanecer enclausurada em caixinhas não dá.

Mas, afinal, o que são padrões? Glória é força feminina…

Minha avó paterna foi a primeira a partir em um dia de chuva. Ela me chamava de passarinho, e vó, a senhora estava certa; sempre gostei de voar na imaginação.

Sobre meu padrinho, sei pouco, mas lembro que ele gostava de Nossa Senhora de Guadalupe, a Nossa Senhora de roupa colorida e flores, tão popular no México…

Também vão os pássaros.

Os avós de olhos azuis e os padrinhos.

E se vão a professora de pintura.

A jornalista, a “Gal” da minha música.

E lá se vão as histórias escritas na máquina de escrever do meu avô materno, que faleceu

no mesmo dia da minha avó paterna, no mesmo 19 de agosto, só que dez anos depois.

Meu avô, um professor…
.

 

 

Borboleta laranja

**Borboleta Laranja**

As asas como montanhas,

Ganhando luzes, infinitas luzes.

A transformação: luzes do novo,

Da calma e do mar que está logo ali, atrás da janela.

A janela da alma,

A janela pela qual a borboleta observa,

Para que suas asas possam voar.

Voar com suas luzes,

Caminhos nunca percorridos.

Por trás da janela, há um mar,

E, além dela, o pôr do sol laranja.

**Dias de sol

**Dias de sol**

Dias de céu azul…

vento gelado, mar gelado, piscina gelada—tudo é gelado: o chuveiro e o sorvete também.
O pôr do sol laranja,

a lua brilhando.

A pracinha cheia de crianças,

a balança que vai e vem como o mar.

A Nenê, minha cachorrinha,

corre como um pequeno cavalinho.

A amarelinha lá embaixo e o pipoqueiro.

O TikTok—talvez uma coisa de adolescentes?

Por que não postar meu trabalho lá e fazer uma conta para a Nenê?

A blusa de frio da Branca de Neve,

a vida que flui.

Uma semana na praia com você e a Nenê foi maravilhosa!

O gelado do mar,

O sorvete de chocolate.

A Nenê debaixo das cobertas,

os ossos espalhados pelo caminho.

Novas histórias escritas no computador,

as asas da borboleta nas cores do céu.

O vermelho do inverno,

o mar que ora é verde, ora é azul,
e o vento frio.

A borboleta na piscina com o azul ao fundo,

as árvores verdes à beira da praia.

A vida que segue,

como as ondas do mar.

Era uma vez uma aula…

**Era uma vez uma aula…**

Era uma vez um caderno,

Um caderno de listras rosas com flores,

Com o nome “Gaby” escrito na capa.

Era uma vez um ano de aulas,

Histórias da vida real,

Contos de fadas e de um monstro roxo com um arco-íris na barriga.

As  Fadas Rosas azuis , a Branca de Neve com anões a menos,

A Pequena Sereia em outra versão,

Versões sem príncipes diferentes ( não gosto da história do cavalo branco)

Histórias que refletem momentos de tristeza…

Deságuam nas linhas do caderno..

O olhar azul do meu avô paterno..

As histórias da máquina de escrever do meu avô materno…

Os bordados, as cores…

Histórias sobre o tempo, tudo lá…

No meu caderno de flores e listras…

O caderno seguiu seu fluxo e chegou ao fim…

Agora, um novo caderno já está pronto para novas histórias…

Deste mesmo caderno saiu a ideia de escrever de outra forma o meu TCC…

Obrigada, Lili, por cada aula!

@lilianrferrari, obrigada pelo processo lindo da escrita.

 

Dizem que o choro é feito de água…

Dizem que o choro é feito de água,

talvez seja feito de água e sal; para mim, é feito de emoção,

de tristeza — aquela que brota do nosso eu, do nosso eu mais puro, do nosso eu mais precioso.

A lágrima que cura, que deixa ir o que machuca, a alma machucada, a alma que busca se

encontrar em cada lágrima que escreve uma nova história, histórias de superação.

A lágrima que permite à tristeza fluir, o que vai, o sair, o percorrer… o percorrer os

caminhos da face, saindo como as ondas do oceano, como a água de um rio que desagua

na alma, que vai encontrando seu próprio leito.

O processo do rio que deságua neste caderno, repleto de momentos escritos.

A fada da tristeza, a fada azul de roupas roxas — a fada que mora em um lugar distante, no

final da floresta, no fim de tudo, onde a luz aparece apenas um pouquinho. A luz no final

do túnel, a fada que busca encontrar suas próprias sombras, que tenta deixar para trás

tudo aquilo que não lhe faz bem. A fada que persiste em transformar a lágrima em sorriso,

o sorriso da alma; a fada que busca sua luz interna, que termina este caderno em busca do

que há de melhor em cada palavra, porque metade de mim é poesia e a outra metade são

palavras ao vento…

Entre Livros e Agulhas: O Bordado da Memória Pessoal – Olivia

Quero falar sobre uma memória bordada: a memória da tia  Olivia, e de sua arte como bordadeira.

Ela passava horas dedicando-se a bordar lembranças de um tempo, narrando as histórias do interior do Paraná dos anos 50.

Enquanto buscava um caminho para o meu trabalho de conclusão de curso, deparei-me com as palavras “Tempo” e “Memória”, que me levaram à história da Olivia.

A figura dela foi se desvelando nas páginas do livro “Bisa Bia, Bisa Bel”, da escritora brasileira Ana Maria Machado, nascida no Rio de Janeiro em 1941 e vencedora do Prêmio Hans Christian Andersen, entre outros.

Meu encontro com a literatura de Ana Maria Machado aconteceu tardiamente, aos doze anos, em uma noite fria de inverno, na lanchonete do clube, saboreando um chocolate quente. Era a fusão dos sabores das noites geladas de meados dos anos 90.

Entre Livros e Agulhas: O Bordado da Memória Pessoal

Ao refletir sobre a permanente tensão entre livros e agulhas, percebo como a arte da escrita e a delicadeza do bordado se entrelaçam de maneira intrínseca na construção de minha memória pessoal.

A literatura, como um estilhaço de fios que se cruzam, forma um grande bordado, unindo histórias, vivências e afetos. Essa relação me remete à obra de Ana Maria Machado, que, com maestria, borda memórias através de seus personagens, revelando a íntima conexão entre passado, presente e futuro.

Assim como Bel, a personagem central, encontramos ao longo de nossa vida pequenos fragmentos que nos conectam a gerações passadas. A arrumação da mãe de Bel, que revela uma foto oval da avó Bia, é uma metáfora potente para o que ocorre com nossas memórias. A imagem da avó, como uma boneca, não é apenas um retrato; é um elo que liga passado e presente — um ponto essencial no grande bordado da vida. Essa foto não tem apenas um valor estético; carrega um peso emocional que nos faz questionar a condição da mulher, ao longo das eras, e suas transformações.

A menina Bel, ao levar a foto para todos os lugares, simboliza o poder da imaginação e a importância da memória na formação de nossa identidade. Em cada esquina da escola e cada pátio do prédio, ela leva consigo uma parte de sua história, assim como nós, em nossa jornada, carregamos os ecos das experiências que nos moldam. O entrelaçamento das gerações — Bia, Bel e a bisneta Beta — sugere que, a cada novo ponto no bordado, não apenas o presente é iluminado, mas também o futuro é costurado com os fios da tradição, das vivências e dos legados recebidos.

Essa linha do tempo entrelaçada traz à tona a diferença entre as experiências femininas de hoje e de outrora. O que significa ser mulher em um mundo que constantemente se transforma?

É um questionamento profundo que reverbera em cada página lida e em cada lembrança revisitada. Assim como o bordado, temos a capacidade de fazer emendas, de unir retalhos da nossa trajetória, costurando nossas dores e alegrias numa tapeçaria única.

Na busca por entender essas conexões, encontrei em minha própria memória a figura de Olivia, uma presença que, assim como Bia e Bel, traz consigo a capacidade de transformar o que passou e o que está por vir.

Olivia representa os laços familiares e a continuidade de um legado preenchido de histórias e vivências que só se tornam mais ricas com o passar do tempo. Através dela, percebo que a escrita se torna uma agulha, unindo narrativas e experiências num compasso delicado.

Portanto, ao me deparar com a obra de Ana Maria Machado e suas personagens entrelaçadas, eu me vejo em um grande bordado — cada ponto representa uma memória, cada fio é uma história que se cruza. Assim, minha permanência na tensão entre livros e agulhas não é apenas uma luta interna, mas uma celebração das múltiplas identidades que habito e que me habitam.

O embrulho de passado, presente e futuro, onde todas essas histórias encontram espaço para coexistir, forma não apenas uma narrativa pessoal, mas um vibrante bordado da vida.

Olivia não ficou registrada em papel fotográfico; ela não foi guardada em uma gaveta, mas está bordada na memória da minha tia. Às margens do Rio Adelaide, a Olivia que a minha tia recorda tinha uma máquina de costura e bordava poesias de um outro tempo. Irmã de Jorge, devoto de São Jorge, filha de Chico Belo, e tia de Eroni, minha tia, que também sabe bordar, fez do bordado um meio de contar histórias.

O bordado entrou na minha vida para narrar a história da minha tia, bordando sua trajetória para uma exposição que celebrava sua vida. Durante o percurso da pós-graduação, reencontrei Bisa Bia, Bisa Bel e Olivia, todas presentes nas memórias da máquina de costura e do seu linho branco, pronto para fazer um novo lençol com flores bordadas.
Bordados contam histórias.

bordado da ti